sexta-feira, 10 de abril de 2020

Dylan Dog - O Imenso Adeus


  
Capa de Corrado Roi
      Só conheci Dylan Dog já bem tarde no meu percurso como leitor de BD: o nome não me era estranho, acompanhava a galeria de personagens Bonelli que ia lendo regular ou ocasionalmente (Tex, Zagor, Mr. No ou Ken Parker), mas a verdade é que nunca tinha despertado a curiosidade necessária para uma leitura (que se antevia difícil) no original italiano ou nas poucas edições brasileiras existentes.
   Em 2010 quando Filipe Melo lança o seu Dog Mendonça e Pizzaboy percebo que, no meio de algumas coisas que eram referências para o seu livro (e também eram referência para mim), lá estava Dylan Dog, tão importante para o Filipe que lhe dava o nome da sua personagem principal. Percebi nesse momento que realmente boa Banda Desenhada me podia estar a passar ao lado.
   E estava mesmo: se as edições da Record e depois da Mythos me deixavam aquele amargo de boca de já não ter muita paciência para ler as traduções para brasileiro (e o italiano continuava a não ser opção) foi com muito entusiasmo que recebi as edições Portuguesas, primeiro da Levoir e depois nesta Colecção Aleph que é actualmente apadrinhada pela A Seita.
   Por isso os 2 mais novos Dylan Dog no mercado Português, entre eles este O Imenso Adeus, também fizeram parte das encomendas de quarentena que fiz. 
página 23
   Marcheselli e Sclavi são notáveis no argumento, partindo de uma estória familiar já muitas vezes escrita, aquele Amor de Verão de adolescência que todos tivemos/conhecemos. Amor esse que, ainda que a vida tenha continuado quase sempre para outras direcções (e para outros amores), se mantém naquele lugar especial da nossa memória emocional, lugar próprio das coisas que nos fazem sorrir e nos colocam aquele “e, se?...”.
   Dylan Dog também tem esse Amor na bela Marina Kimball, co-protagonista deste livro, de quem recebe uma visita inesperada e com quem viaja de regresso a Moonlight, local desse mágico Verão.
   Como quase tudo em Dylan Dog, nada é linear (sejam personagens, viagens, amores, regressos…) e Marcheselli e Sclavi aproveitam essa premissa do universo Dylan para nos contar este Amor e esta viagem de regresso de forma subtilmente diferente e brilhante.
   Dylan Dog e Marina vão desfilando no conjunto das suas recordações de adolescência, deixando a Dylan, e ao leitor que os acompanha, aquela sensação de que o tempo pode ser recuperado ainda que saibamos que se há coisa que não pode ser recuperada, é o tempo. 
 

  E a estória continua o seu caminho sem que nada nos chegue a surpreender verdadeiramente, mas por outro lado sem que saibamos exactamente o que vai acontecer. Nessa tensão entre aquilo que percebemos e o que julgamos perceber, o argumento encontra espaço para nos deixar na expectativa sobre o final feliz que desejamos e que julgamos saber não ser possível.
   O desenho de Carlo Ambrosini não compromete, e respeita a estética de Dylan Dog, mas nunca chega a alcançar a qualidade superior do argumento. O ponto de interesse maior na arte, está entre a alternância entre o uso de tinta-da-china (para o presente) e o de aguarela (para o passado), sendo que nesta última é onde Ambrosini melhor se expressa e onde consegue por vezes algum brilho.
 
A alternância entre Tinta-da-china e aguarela
   A edição de A Seita segue a habitual qualidade da editora: capa dura, papel adequado ao preto e branco deste Dylan Dog e na escolha da magnífica capa de Corrado Roi (capa utilizada na republicação da estória na coleção Dylan Dog Granderistampa). E com os descontos destas promoções de quarentena, um preço muito simpático para este livro.
   Para quem não conhece Dylan Dog este é o ponto de partida certo para o conhecer: uma estória familiar, o fantástico e o mágico sempre presentes, e o irresistível charme trágico tão característico de Dylan Dog.
   Para os que o conhecem, têm aqui um dos belos livros que irão ler este ano. Para mim o melhor livro desta quarentena: Dylan Dog não fica melhor do que este O Imenso Adeus.

Outro ponto de vista sobre a obra, no blog Vinhetas 2020

Para uma (rara) entrevista do criador de Dylan Dog, Tiziano Sclavi, a propósito dos 30 anos da personagem, em 2016

Dylan Dog – O Imenso Adeus
Argumento – Tiziano Sclavi & Mauro Marcheselli
Desenho – Carlo Ambrosini
A Seita – Março de 2020
170 x 230 mm, 104 págs., capa dura
12,50€

Avaliação: 



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