Capa de Corrado Roi |
Só conheci Dylan Dog já bem tarde
no meu percurso como leitor de BD: o nome não me era estranho, acompanhava a
galeria de personagens Bonelli que ia lendo regular ou ocasionalmente (Tex,
Zagor, Mr. No ou Ken Parker), mas a verdade é que nunca tinha despertado a
curiosidade necessária para uma leitura (que se antevia difícil) no original
italiano ou nas poucas edições brasileiras existentes.
Em 2010 quando Filipe Melo lança
o seu Dog Mendonça e Pizzaboy percebo que, no meio de algumas coisas que eram
referências para o seu livro (e também eram referência para mim), lá estava
Dylan Dog, tão importante para o Filipe que lhe dava o nome da sua personagem
principal. Percebi nesse momento que realmente boa Banda Desenhada me podia
estar a passar ao lado.
E estava mesmo: se as edições da
Record e depois da Mythos me deixavam aquele amargo de boca de já não ter muita
paciência para ler as traduções para brasileiro (e o italiano continuava a não
ser opção) foi com muito entusiasmo que recebi as edições Portuguesas, primeiro
da Levoir e depois nesta Colecção Aleph que é actualmente apadrinhada pela A
Seita.
Por isso os 2 mais novos Dylan
Dog no mercado Português, entre eles este O Imenso Adeus, também fizeram parte das encomendas de quarentena que
fiz.
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Marcheselli e Sclavi são notáveis
no argumento, partindo de uma estória familiar já muitas vezes escrita, aquele
Amor de Verão de adolescência que todos tivemos/conhecemos. Amor esse que,
ainda que a vida tenha continuado quase sempre para outras direcções (e para outros
amores), se mantém naquele lugar especial da nossa memória emocional, lugar
próprio das coisas que nos fazem sorrir e nos colocam aquele “e, se?...”.
Dylan Dog também tem esse Amor na
bela Marina Kimball, co-protagonista deste livro, de quem recebe uma visita
inesperada e com quem viaja de regresso a Moonlight, local desse mágico Verão.
Como quase tudo em Dylan Dog,
nada é linear (sejam personagens, viagens, amores, regressos…) e Marcheselli e
Sclavi aproveitam essa premissa do universo Dylan para nos contar este Amor e
esta viagem de regresso de forma subtilmente diferente e brilhante.
Dylan Dog e Marina vão desfilando
no conjunto das suas recordações de adolescência, deixando a Dylan, e ao leitor
que os acompanha, aquela sensação de que o tempo pode ser recuperado ainda que
saibamos que se há coisa que não pode ser recuperada, é o tempo.
E a estória continua o seu
caminho sem que nada nos chegue a surpreender verdadeiramente, mas por outro
lado sem que saibamos exactamente o que vai acontecer. Nessa tensão entre
aquilo que percebemos e o que julgamos perceber, o argumento encontra espaço
para nos deixar na expectativa sobre o final feliz que desejamos e que julgamos
saber não ser possível.
O desenho de Carlo Ambrosini não
compromete, e respeita a estética de Dylan Dog, mas nunca chega a alcançar a
qualidade superior do argumento. O ponto de interesse maior na arte, está entre a
alternância entre o uso de tinta-da-china (para o presente) e o de aguarela (para
o passado), sendo que nesta última é onde Ambrosini melhor se expressa e onde
consegue por vezes algum brilho.
A alternância entre Tinta-da-china e aguarela |
A edição de A Seita segue a
habitual qualidade da editora: capa dura, papel adequado ao preto e branco deste
Dylan Dog e na escolha da magnífica capa de Corrado Roi (capa utilizada na
republicação da estória na coleção Dylan Dog Granderistampa). E com os
descontos destas promoções de quarentena, um preço muito simpático para este
livro.
Para quem não conhece Dylan Dog
este é o ponto de partida certo para o conhecer: uma estória familiar, o
fantástico e o mágico sempre presentes, e o irresistível charme trágico tão
característico de Dylan Dog.
Para os que o conhecem, têm aqui
um dos belos livros que irão ler este ano. Para mim o melhor livro desta
quarentena: Dylan Dog não fica melhor do que este O Imenso Adeus.
Outro ponto de vista sobre a obra, no blog Vinhetas 2020
Para uma (rara) entrevista do
criador de Dylan Dog, Tiziano Sclavi, a propósito dos 30 anos da personagem, em
2016
Dylan Dog – O Imenso Adeus
Argumento – Tiziano Sclavi &
Mauro Marcheselli
Desenho – Carlo Ambrosini
A Seita – Março de 2020
170 x 230 mm, 104 págs., capa
dura
12,50€
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