Em Southern Bastards nada é fácil… O argumento carregado de violência nem sempre muito digesta. O desenho que se estranha e se apresenta cru, quase rude na forma como nos dá um soco no estômago inicial. As capas um pouco toscas naquele imenso vermelho que nos avisa que nos espera muito sangue, provavelmente mais do que aquele que queríamos ver. As cores carregadas, intensas, a concorrerem para uma sensação de atmosfera opressiva de um sítio onde não queremos ir e muito menos ficar.
Southern Bastards promete tudo isto e entrega muito mais:
Jason Aaron não se poupa a nada e faz desfilar ao longo dos 4 volumes (20 números)
publicados até ao momento (a série está parada desde Maio de 2018) tudo aquilo
que odeia no Sul do Estados Unidos. O Sul que ama. E sempre com a sensação que
ainda tem muito ódio para contar.
E Jason Latour vai um pouco mais longe e dá-nos tudo aquilo
que um desenhador tem para dar: domina de forma excepcional a arte de
transmitir emoções pelo desenho. A estória anda ao ritmo que Latour quer e o
leitor, goste ou não goste, leva com tudo aquilo que Latour quer dar. A arte de
Latour é bonita? Provavelmente não. Mas é brilhante na forma como espreme todo
o sumo que cenas e personagens têm. Do tal estilo rude sempre que temos maus em
cena (e temos quase sempre maus em cena), ao estilo quase cartoonesco (a
lembrar um muito improvável Tim Sale) dos menos maus que desfilam na estória,
até um piscar de olhos recorrente ao estilo de Andrea Sorrentino em algumas
cenas e cenários.
Poderíamos pensar que Jason Latour já tinha dado tudo a
esta estória, mas vai um pouco mais longe: as cores destacam-se de uma forma
impressionante. Há tanto contraste, a criar a tal atmosfera opressiva, e tanto
vermelho, que é impossível não estarmos sempre a pensar em mais sangue e violência.
Latour é imenso no trabalho que faz em Southern Bastards.
Tudo neste livro concorre para essa força brutal e
avassaladora que nos empurra e esmurra enquanto lemos, e até a legendagem colabora:
na versão original (Jared Fletcher) está tudo sempre no sítio certo e com o
formato e tamanho certo para chamar a atenção quando é preciso. A legendagem da
G.Floy é relativamente fiel mas o tipo de letra utilizado (mais
espaçado) retira algum do contributo que a legendagem dá no original.
No restante, a edição portuguesa da G.Floy é, como
habitualmente, muito boa: capa dura, papel de qualidade, sem erros que se notem
(em 4 volumes não detectei nenhuma gralha evidente) e um conjunto de extras que
são mesmo mais-valia. Sobretudo os textos que Jason Aaron e Jason Latour foram
escrevendo ao longo da obra e que nos permitem perceber o que esta série é para
estes autores.
Uma nota negativa para a parca paginação ao longo dos 3
primeiros volumes e para a ausência total de paginação no 4º volume, de resto
em linha com o original. E para o significativo aumento de preço do 4º volume
sem que nada aparentemente o justifique.
Southern Bastards não é fácil… E também não é para todos. Mas
para aqueles que é, vai ser uma leitura muito intensa.
Para algo mais de Jason Latour, uma interessante entrevista
ao canal Youtube “The Frog Queen” em
https://www.youtube.com/watch?v=TCrdZ2r65mI
SOUTHERN BASTARDS
Argumento: Jason Aaron (e Jason Latour)
Desenho e Cores: Jason Latour (e Chris Brunner)
Vol. 1: Aqui Jaz um Homem (G.Floy - 2015)
Vol. 1: Aqui Jaz um Homem (G.Floy - 2015)
176mm x 262mm, 128 páginas, capa dura
€9,99
€9,99
Vol.
2: Sangue e Suor (G.Floy - 2016)
176mm x 262mm, 112 páginas, capa dura
€9,99
Vol.
3: Regressos (G.Floy - 2017)
176mm x 262mm, 160 páginas, capa dura
€11,99
Vol.
4: Tê-los no sítio (G.Floy - Dezembro 2018)
176mm x 262mm, 168 páginas, capa dura
€ 16,00
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