Sou um fã do Universo Batman.
Tenho um tapete à porta a dizer “Welcome to the Batcave”; dezenas de bonecos
Batman e amigos (e inimigos); comprei a edição de selos Harley Quinn (e agora os
do Joker) que os CTT lançaram; os meus chinelos de quarto são Batmobiles entre mais
umas quantas coisas assim meio-parvas; e claro, uma larga colecção de banda
desenhada de Gotham City.
Tenho vindo a apreciar de forma
crescente a Harley Quinn, à medida que se vai transformando em personagem por
direito próprio, ganhando complexidade e densidade, abandonando a faceta de ser
só uma sidekick do Joker.
Motivações mais do que suficientes
para adquirir este Harley Quinn – Através do espelho, que a Levoir
recentemente editou (Março 2020).
Por outro lado, desconhecia totalmente
o trabalho de Mariko Tamaki (ainda não tive a oportunidade de ler o tão
elogiado Finalmente o Verão editado pela Planeta Tangerina) e
resumiam-se a pouco mais que uma mão cheia, as páginas desenhadas por Steve Pugh que
alguma vez tinha visto.
E sobretudo tinha lido um rol
imenso de críticas a este Através do espelho (Breaking Glass no
original) de fãs irados com o que Mariko Tamaki tinha feito a esta Harley Quinn.
Originalmente editada para um
público mais jovem (na chancela DC Ink), a Harley Quinn de Mariko Tamaki é uma
Harley Quinn bem diferente da que Paul Dini e Bruce Timm criaram. Tamaki reconta
a estória de uma Harleen Quinzel ainda adolescente, e de como a chegada acidentada
a Gotham City a vai conduzindo até à Harley Quinn que reconhecemos.
Pelo meio, um universo Batman aparentemente
só vagamente comum com o universo Batman conhecido por todos, mantendo nomes de
algumas personagens, mas dando-lhes estórias e origens bem diferentes das
oficiais. Mariko Tamaki vai tão longe neste processo de recriação, que num
primeiro momento julgamos estar a ver apenas personagens que por acaso têm o
mesmo nome de alguns dos habitantes mais conhecidos de Gotham, e só isso.
É aqui que Tamaki é particularmente
habilidosa no argumento que criou: despe totalmente a Harley, a Poison Ivy e o
Joker (os protagonistas) até encontrar um traço de personalidade ou característica
que considera que os define enquanto personagens adultas. A partir desse traço
constrói esta estória como uma origem possível para cada um deles. São os
personagens que conhecemos? Não. São os personagens de Tamaki, mas em que ao
mesmo tempo reconhecemos esse algo fundamental que caracteriza cada um deles.
Até Gotham City sofre este processo
de transformação de adolescência: de como uma Gotham familiar, sítio onde moram
as avós (como a avó de Harleen), se vai moldando à chegada de heróis e vilões
mascarados e de como esse processo a pode conduzir à Gotham sombria da idade
adulta.
Mariko tem uma outra visão,
fresca e muito inspirada sobre o Universo Batman. Não é uma visão que agrade a
todos? Quando já nem o Dark Knight Returns de Frank Miller é consensual para quem
gosta de Batman, dificilmente poderia ser. Mas é a visão mais interessante que
li nos últimos tempos e dou por muito bem gastos os 19,90€ (menos os 10% de
desconto da praxe) nesta Harley Quinn – Através do espelho. Fica seguramente
como um dos melhores livros que li este ano.
Como se não bastasse (ou para quem não baste) há ainda a
arte de Steve Pugh, artista que irei seguir atentamente nos próximos tempos. A
arte de Pugh é mesmo muito, muito boa e a utilização que faz da cor, transforma-a
em algo de nível superior. Basta olhar para a capa desta edição portuguesa
(ainda bem que a Levoir não optou pela capa da edição original) e ficamos a
saber ao que vamos.
A edição da Levoir é a habitual desta editora e não
compromete: capa dura brilhante, zero extras mas, infelizmente, o (pequeno)
formato original da edição americana. Esta Harley Quinn e a arte de Pugh, têm estatuto para merecer
outra dimensão (física) de livro.
Para um ponto de vista completamente
diferente sobre a obra, em Vinhetas 2020:
Para o trailer oficial da DC de “Breaking
Glass” (Através do espelho)
Harley Quinn – Através do espelho
(Breaking Glass)
Argumento – Mariko Tamaki
Desenho – Steve Pugh
Levoir – Março de 2020
165 x 235 mm, 202 págs., capa
dura
19,90€
Avaliação:
Sem comentários:
Enviar um comentário